terça-feira, 29 de julho de 2008

Miranda Calha em entrevista.



PS sem coligações nas autárquicas

Miranda Calha, coordenador das autárquicas no PS, desafia Ferreira Leite a voltar ao acordo que Menezes rasgou, sobre a nova lei eleitoral para o Poder Local. E rejeita juntar eleições, contra argumentos "economicistas"
Sem pressas para definir os candidatos às autarquias, Miranda Calha - responsável pela coordenação das eleições locais no PS - tem objectivos mínimos traçados para 2009: ganhar mais câmaras que em 2005.
O PS chegou a dizer que recuperaria um projecto do PSD que propõe a suspensão de mandato a autarcas sob investigação judicial. Vai fazê-lo?
A iniciativa foi tomada pelo PSD, no contexto de uma nova lei eleitoral para as autarquias locais. Depois o PSD quebrou o consenso que se tinha obtido, no sentido de se modernizar a componente eleitoral das autarquias...
Mas o projecto é recuperável?
O compromisso foi quebrado pelo PSD e a pergunta deve ser colocada à nova liderança do PSD.
Insisto: o PS concorda com a suspensão destes autarcas?
Essa lei decorre também de uma iniciativa do PSD. O que é facto é que nós deixámos passar essa iniciativa. Nós não tínhamos nada a opor.
Falando em legislação sobre autárquicas: a introdução de candidaturas independentes foi boa?
Achamos que foi bom, sinónimo de vitalidade no poder local.
Helena Roseta, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro... há quem diga que os independentes só servem para os que saem dos partidos.
Não. Não é através dos resultados que vamos alterar a nossa posição sobre a lei. Mantemos uma opinião positiva.
Helena Roseta tem feito um bom lugar na Câmara de Lisboa?
Não me cabe a mim analisar, eu não votei em Helena Roseta. Os eleitores é que têm de ver o que é a verdadeira acção pela comunidade ou o que é meramente panfletário, declarações de intenções. Mas os eleitores vão fazer essa leitura, porque há a parte emocional dos momentos, mas quando é a realidade de resolver os problemas concretos... não se gere uma câmara com estados de espírito.
Analisando as candidaturas próximas, a coligação com o Bloco de Esquerda em Lisboa tem sido boa?
O actual presidente da câmara avançou com as medidas necessárias para fazer face à crise em Lisboa. O que é facto é que havia uma grave crise financeira, uma instabilidade de vereadores...
A questão é essa: António Costa terá que voltar à velha fórmula da coligação com o PCP para ter uma maioria absoluta em Lisboa?
O PS naquela circunstância candidatou-se sozinho, ganhou a câmara sozinho - o que já não acontecia há muitos anos.
Mas tem-se queixado várias vezes de bloqueios às decisões...
É evidente que é mais proveitoso ter uma maioria.
Sem ela, como é que se faz?
Eu diria que isso é o que iremos ver. O PS concorreu assim e a verdade é que tem vindo a resolver os problemas. E não temos notícia das constantes perturbações de antigamente. Esta análise terá terá também uma consequência eleitoral. Temos que caminhar fazendo o melhor.
E chegar às eleições sozinho?
Pois... é nessa altura que se tem que analisar.
Em alguma circunstância o PS admite coligações no país?
Não, o princípio geral é o PS concorrer sozinho. Podem ser analisadas situações pontuais, mas este é o princípio geral.
O PS já tem objectivos para as autárquicas?
Ter mais autarquias locais, melhores resultados.
Porque não mais do que o PSD? É pedir demais?
Nem demais, nem de menos. ..
No Porto, Elisa Ferreira já se pode considerar candidata?
É óbvio que há sempre processos que têm a ver com as estruturas internas. Mas há nomes que se apresentam e que têm credibilidade, o que é positivo. E Elisa Ferreira é um bom nome. Mas assim como esse há outros nomes e as estruturas têm que se pronunciar.
Narciso Miranda ainda pode ser candidato pelo PS?
A nossa orientação é que aqueles que são autarcas do PS devem renovar os seus mandatos e, no caso de Matosinhos, onde tem sido feito um bom trabalho, aplica-se esse princípio.
Outro assunto em discussão é o calendário eleitoral. O PS defende que as autárquicas sejam depois das legislativas. Porquê?
Para manter os calendários.
Não é ir vezes demais a votos? europeias, legislativas e depois autárquicas, em poucos meses?
Uma grande vantagem da democracia é haver eleições! Já viu o que era a barafunda de juntar...? Numa campanha de quinze dias com a perspectiva nacional e, ao lado, os outros candidatos a discutir o problema local?
As autárquicas ficariam escondidas?
Não sei, mas podia acontecer tudo. Cada eleição é uma eleição.
Veremos o que diz o presidente da República, que marcará as legislativas.
Pois. É que nós vivemos em democracia. E o acto eleitoral é o seu momento mais forte, em termos de participação dos cidadãos. Assim deve haver a compreensão de que cada acto é um acto.
Nem do ponto de vista financeiro?
Se fossemos pelo princípio economicista, então se calhar era melhor nem haver eleições! Mas estávamos noutro regime político!
A crise económica vai dar protesto contra o Governo PS?
Um acto eleitoral é para reflectir tudo. É claro que num contexto deste género, de crise internacional, podíamos pensar que seria injusta uma penalização que não tem a ver com a nossa acção. Mas os portugueses têm tido sempre um grande sentido de justiça. Mas ninguém pode iludir que se têm feito reformas profundas. E nem tem havido demonstração de alternativa!
É possível governar sem maioria?
Na altura se verá. Queremos o melhor, mas os portugueses dirão na altura própria.
David Diniz-In JN

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