sábado, 10 de janeiro de 2009

Entevista Com António Costa.

Divergências entre Cavaco e Sócrates não surpreendem”
Bruno Proença e Francisco Teixeira Diário Económico

António Costa explica as prioridades da Câmara de Lisboa para 2009, fala das eleições autárquicas, da crise e da política nacional.
António Costa, um dos mais experientes políticos no activo, número dois do PS, presidente da maior câmara do país já esperava divergências entre Cavaco e Sócrates. E, segundo diz, os portugueses também: "Quiseram ter um Presidente diferenciado do Governo com sentido institucional, com sentido de cooperação estratégica, mas que pudesse marcar uma diferença relativamente à actuação do Governo". E assim tem sido.
O Presidente pediu no discurso de Ano Novo o fim das ilusões, a verdade no discurso político e muita atenção ao endividamento externo. Como reage?Com naturalidade.
É bom haver um Presidente que traga este realismo ao Governo?Se me recordo bem da mensagem de Natal do primeiro-ministro não podia ter sido mais realista sobre o que nos espera em 2009. Não podia haver mais consonância entre os dois.
Preocupa-o a querela institucional entre Presidente e primeiro-ministro?Conhece algum português que tenha ficado apoquentado com esse tema além dos políticos e dos jornalistas? Os cidadãos têm dado provas de terem um incomensurável bom-senso, superior àquilo que os agentes políticos e jornalísticos têm revelado, logo para eles há coisas que são óbvias. O tema em causa: Presidente e Governo estão em divergência. Qual é a surpresa para qualquer português que possa haver divergência entre o Professor Cavaco e um Governo Socialista? Estou convencido que as pessoas quiseram ter um Presidente diferenciado do Governo com sentido institucional, com sentido de cooperação estratégica, mas que pudesse marcar uma diferença relativamente à actuação do Governo.
Tem defendido que o PS devia ter um candidato presidencial próprio. Manuel Alegre é um bom nome?Os eleitores já disseram que sim.
Pergunto a António Costa, número dois do PS.Não é altura para se estar a discutir candidatos presidenciais. Em relação ao Manuel Alegre a questão que se coloca terá de ser colocada bastante antes dessas eleições que é saber o que ele pretende fazer politicamente ao longo do próximo ano.
Será a grande variável que vai determinar o ano político do PS?Não. Acho que é um dado que está colocado e que deve ser esclarecido.
Conhece bem Alegre. Acredita que sairá do PS? Todos estamos preocupados quando alguém que faz parte do nosso património afectivo, da nossa história, fala em sair.A actual direcção do PS já se apresentou como a "esquerda moderna". Agora diz que é a "popular". O que mudou?Mas é por ser a esquerda moderna que é popular. O PS não ganha só em Telheiras, ganha no país. O PS não é um partido de quadros superiores com complexos de culpa como outras pequenas forças.
Vai coordenar a moção que Sócrates apresentará ao Congresso do PS. Vai conciliar na moção as ideias de Manuel Alegre?Se há característica do mandato de José Sócrates como secretário-geral do PS é a de ser o grande garante da unidade.
Sócrates abriu a porta à antecipação legislativas de forma a coloca-las no mesmo dia das Europeias. É um cenário viável?Não sei se abriu a porta... Há três actos eleitorais. Ele disse uma coisa clara que é as autárquicas não devem ser misturadas com as outras. Quanto às restantes não é um tema sobre o qual tenha reflectido e não tenho ainda uma opinião formada.
Que imagem guarda da entrevista do primeiro-ministro à SIC?A grande determinação de alguém que se bate como um leão para enfrentar a crise é vencê-la como venceu a crise financeira [orçamental] anterior. Quem viu a entrevista percebeu que há uma estratégia, uma determinação clara na sua execução e que as ideias que aparecem são credíveis e consistentes.
Mas não serão os efeitos da crise mais fortes do que essa determinação de que fala?Há uma diferença entre os políticos e os analistas políticos. Os analistas devem constatar os factos, os políticos apresentar soluções. É isso que Sócrates tem feito: identificar os problemas e encontrar soluções para os mesmos.
Esta semana Jorge Coelho levantou dúvidas às ajudas pontuais do Governo a empresas por distorcerem a concorrência. O que lhe parece?Toda a gente tem dúvidas sobre tudo. Há uma coisa sobre a qual não tenho dúvidas nenhumas, mas sim certezas: o Governo não pode ficar impassível perante empresas que são viáveis em condições normais de mercado, que são estrategicamente importantes para o país e que estão a ser apanhadas num turbilhão, no qual, o país não se pode dar ao luxo nem de perder as empresas nem os empregos gerados por essa empresas.

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