terça-feira, 6 de maio de 2008

Beato ganhou melhores acessos, mas vilas operárias continuam abandonadas

2008-05-06, 08h32


Lisboa, 06 Mai (Lusa) - Fica na zona oriental mas não acompanhou o desenvolvimento do Parque das Nações. O Beato beneficiou com as novas vias rodoviárias, mas continua à espera que o Plano para o Vale de Chelas saia da gaveta para resolver alguns problemas e ajudar a recuperar as vilas operárias emblemáticas da freguesia.

"A ligação ao centro da cidade ficou mais fácil", disse o presidente da Junta, Hugo Xambre Pereira, reconhecendo,todavia,que a proximidade do Parque das Nações não trouxe um maior fluxo de visitantes aquela freguesia, apesar de contar com um Museu único a nível nacional (Museu do Azulejo) e espaços culturais como o Teatro Ibérico, instalado num antigo convento, e o Palco Oriental.

Com dois quilómetros de frente de rio, a freguesia é rica em história industrial, mas o património fabril já mereceu melhores dias.

Apesar de algumas recuperações isoladas feitas por particulares, várias casas degradadas convivem lado a lado com o imponente Convento do Beato.

No entanto, apesar das "casas em mau estado", a maioria dos conventos e palácios tem resistido à incúria graças aos esforços dos seus proprietários, que têm sido diligentes nas obras de conservação.

A degradação chegou à maioria das oito vilas operárias da freguesia, algumas há anos à espera que os proprietários decidam o que fazer com aquelas casas.

Um dos exemplos é a Vila Flamiano, propriedade da Sociedade Têxtil do Sul, e onde vivem cerca de 60 pessoas.

"Esta vila é para ir abaixo, não se sabe é quando. Pelo menos, assim o prevê o Plano para o Vale de Chelas. Aqui deverão ficar vias de comunicação e uma ponte que fará a ligação com a 2ªCircular", afirmou o autarca.

Há casos, como o da Vila Moreno, propriedade da Santa Casa de Abrantes, onde a extrema degradação dos edifícios levou a junta a fazer um pedido de obras coercivas à câmara. Continua à espera de resposta.

Para manter vivas as vilas operárias, que ainda estão ocupadas em cerca de 90 por cento dos casos e foram construídas para apoiar as inúmeras fábricas que se instalaram naquele local entre finais do século XIX e inícios do século XX, a Junta de Freguesia aposta na recuperação e instalação de ateliers.

"É uma forma de trazer para a freguesia novas pessoas", reconhece.

Um dos exemplos é a Vila Dias, a maior vila operária do Beato, com 145 fogos. O projecto de recuperação é de 2006 e prevê a instalação espaços que animem a vila e tragam mais segurança.

O presidente da Junta estima que, em toda a freguesia, existam 600 fogos a precisar de uma intervenção urgente, alguns deles em bairros municipais.

Quanto às fábricas, desapareceram quase todas, mas a memória do que existiu subsiste ainda, sob a forma de armazéns abandonados e chaminés solitárias, que um dia serviram indústrias militares, moagens, fábricas de tabaco e fósforos, têxteis, fiações ou tinturarias.

Algumas foram recuperadas para novos usos, como a Fábrica de Fiação de Tecidos Oriental, que alberga agora um centro comercial, ou um armazém na rua da Manutenção reconvertido em galeria de arte, mas a maior parte está ao abandono.

O presidente da Junta advoga as parcerias público-privadas para incentivar intervenções nestes locais degradados.

"Temos um projecto de recuperação para o Largo do Olival, no qual gostaríamos de envolver a Nacional", a famosa fábrica de bolachas e uma das poucas que resistiu ao colapso industrial na freguesia.

Além dos planos que estão congelados há vários anos, como o Plano de Urbanização do Vale de Chelas, o presidente da Junta não percebe também o que aconteceu à SRU da Zona Oriental, cujo projecto, elaborado em 2006, está parado.

A aposta para o desenvolvimento da freguesia não passa pelo desenvolvimento imobiliário desenfreado, garantiu Hugo Xambre Pereira.

"Não queremos voltar a cometer os erros que se cometeram na década de 90. Precisamos de equipamentos e espaços verdes", acrescentou.

A requalificação da Mata da Madredeus - um pulmão verde no centro do Beato - é mais um dos casos em que o projecto existe, mas faltam meios para o concretizar.

"O investimento ronda os 750 mil euros, para arranjar o parque de merendas, criar um parque infantil e fazer uma melhor definição dos caminhos", adiantou o presidente da Junta de Freguesia do Beato.

SO/RCR

Fonte: Agência LUSA

1 comentário:

Anónimo disse...

É pena que a reabilitação urbana com o advento da realização da Expo 98 não tivesse chegado à freguesia do Beato, é preciso agora com a prevista ponte Chelas-Barreiro não deixar fugir esta oportunidade de finalmente conseguir acessos decentes para a freguesia, estou convencido se este desidrato se realizar a fixação de mais população e reabilitação das habitações mais antigas será um facto.